Como
manter todos na escola
É fácil
culpar o aluno pelo abandono, mas o desafio de diminuir os índices de evasão
exige que a escola repense suas práticas cotidianas.

Não será. O desafio de ser professor exige educar todos, sem exceção. O Brasil, por enquanto, está perdendo essa batalha. É verdade que os índices de acesso à Educação avançaram nas últimas três décadas (97,6% das crianças e dos adolescentes entre 7 e 14 anos estão na escola). Mas os indicadores de permanência - a taxa de abandono, que mostra os que não concluíram o ano letivo, e a de evasão, que aponta os que não se matricularam no ano seguinte - não caminharam no mesmo ritmo. Hoje, de cada 100 estudantes que ingressam no Ensino Fundamental, apenas 36 concluem o Ensino Médio.
De
quem e a culpa
Responsabilizar o aluno pelo
abandono é a saída mais fácil. Na verdade, ele é o menos culpado. Pesquisas
indicam que existem dois conjuntos de fatores que interferem no abandono
escolar. O primeiro deles é o chamado risco social. Fatores como a condição socioeconômica
e o lugar de residência podem aumentar a pressão para a desistência: com a
necessidade de complementar a renda familiar, muitos jovens são atraídos pelo
trabalho precoce e largam os livros.
Porque
o aluno se sente desmotivado
Segundo dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007, apenas 21,8% dos
adolescentes que têm ocupação continuam indo às aulas. Entretanto, os estudos
mostram que a própria escola colabora para agravar a evasão. Os altos índices
de repetência exercem um papel fortíssimo - longe de sua faixa etária original,
o aluno se sente desmotivado a seguir aprendendo.
A
escola não serve para nada
A miopia para enxergar o
problema atrapalha. Em geral, a interrupção dos estudos é o passo final de um
processo que deixa sinais. O primeiro costuma ser o desinteresse em sala. Indisciplina
e atos de violência também são comuns. Logo começam as faltas, cada vez mais
frequentes. Por fim, a ausência definitiva. Também são recorrentes, sobretudo
entre os jovens, as queixas de que a escola "não serve para nada".
Porque
ir a escola
Estudioso da relação entre os
jovens e o saber, o pesquisador francês Bernard Charlot descobriu que a maioria
só vê sentido em ir à escola para conseguir um diploma, poder ganhar dinheiro
num emprego ou ter uma vida tranquila no futuro. Como predomina a ideia de um
aprendizado sem sentido, muitos se desestimulam e desistem. O relatório Motivos
da Evasão Escolar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta que o desinteresse
é a causa principal da saída definitiva para adolescentes entre 15 e 17 anos.
Como
reverter a evasão
Fica claro que a escola precisa
olhar para si própria. Do ponto de vista da gestão, uma providência essencial é
atacar as causas da evasão. O acompanhamento eficiente da frequência - que também
deve estar na pauta das reuniões pedagógicas - ajuda a mapear o problema e
identificar os motivos das faltas. Dependendo da razão, é possível escolher a
melhor forma de reverter o quadro: conversas com pais e alunos, visitas às
famílias, aulas de reforço e campanhas internas e na comunidade.
Suspensões
e expulsões são eficazes
O tom deve ser de parceria e
acolhimento, nunca de punição. Suspensões e expulsões podem ser rediscutidas. A
ideia é simples: se a indisciplina é um dos caminhos que levam à evasão, não
faz sentido punir o aluno impedindo que ele vá à escola. Em vez disso, é
possível pensar em medidas que modifiquem a rotina do estudante, mas que o
mantenham na instituição - estudar sozinho, com a obrigação de acompanhar o
conteúdo, é uma alternativa.
Como
garantir que os alunos estão aprendendo
É necessário também arrumar o
"lado de fora" dos muros, atacando o risco social. Em termos de
políticas públicas, atrelar benefícios sociais como o Bolsa Família à
frequência escolar funcionou, reduzindo na população atendida de 4,4 para 2,8%
o total de crianças e jovens entre 7 e 14 anos fora da escola. Ampliar a ação
pode dar bons resultados. Mas é preciso também garantir que esses alunos
aprendam. Nesse sentido, uma boa sugestão é adicionar critérios que possam
indicar se o estudante de fato avançou, aproveitando o direito a uma Educação
de qualidade - e para todos.
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