quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

EVASÂO ESCOLAR


Um programa para corrigir a defasagem idade-série
Conheça o projeto de aceleração implantado por Amarildo Lima no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 427, em Samambaia, a 45 quilômetros de Brasília.
Em 2007, aos 15 anos, Marcelo Siqueira já havia repetido cinco vezes a 5ª série do Ensino Fundamental, com direito a um ano inteiro fora da escola antes da última bomba. Ele não acreditava mais que pudesse avançar e estava a ponto de abandonar os estudos - como fazem 19% dos alunos que cursam uma série abaixo da que seria a prevista para a idade. Porém esse não foi o destino de Marcelo. Em 2008, o garoto teve a chance de participar do programa de aceleração A Hora É Esse - Avanço Excepcional, implantado no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 427, em Samambaia, a 45 quilômetros de Brasília - que rendeu ao diretor da escola, Amarildo Reino de Lima, o título de Gestor Nota 10 no Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. O trabalho destacou-se entre os 644 inscritos na categoria por concentrar esforços de toda a equipe para corrigir o fluxo de alunos em defasagem idade-série.
Em 2008, quando Amarildo assumiu a direção do CEF 427, perto de 400 dos mil matriculados no Ensino Fundamental já tinham repetido de ano pelo menos uma vez e ele estabeleceu como objetivo solucionar essa distorção (leia mais sobre a trajetória do diretor no quadro abaixo). "Nossa equipe se focou em bolar soluções para que os jovens voltassem a estudar com os colegas da mesma idade e superassem os problemas causados por tantos anos de repetência", afirma ele. A base do A Hora É Essa - Avanço Excepcional foi a criação de turmas de aceleração.
"Tenho consciência de que meu papel é servir a comunidade e garantir a aprendizagem dos alunos. A escola e a casa nunca podem fechar as portas para uma criança." É com esse pensamento que Amarildo Reino de Lima trabalha há 12 anos na rede do Distrito Federal. Ele já se incomodava com a repetência quando era professor de Matemática: "Percebia que, ano a ano, dezenas de estudantes ficavam retidos. Muitos, com vergonha, abandonavam a escola ou começavam a apresentar problemas de comportamento. E ninguém sabia o que fazer". Formado em Economia e Matemática e especialista em Gestão Escolar, ele assumiu o CEF 427 após uma rigorosa seleção feita pela Secretaria de Educação do Distrito Federal. Além de passar por provas escritas e entrevistas, Amarildo teve de apresentar um plano de trabalho para solucionar o problema da defasagem. No fim de 2008, depois de um ano de execução do projeto A Hora É Essa - Avanço Excepcional, ele foi eleito para continuar no cargo de direção por mais dois anos, com mais de 90% dos votos. Este ano, o projeto continua para quem ainda precisa. Amarildo espera que, em 2010, com a ampliação do trabalho da coordenação pedagógica e da formação de professores, seja possível acabar de vez com a defasagem.
Segundo os especialistas, quando há poucos alunos nessa situação, o melhor é mantê-los nas turmas originais, sem obrigá-los a repetir de ano, e promover o avanço com aulas de reforço, adaptações curriculares e flexibilização da avaliação. Porém o caso do CEF 427 agravou-se de tal forma no decorrer dos anos que, quando o gestor assumiu, o número de repetentes estava muito acima do aceitável. "O reagrupamento permitiu um trabalho bem direcionado às necessidades de aprendizagem", afirma Ana Inoue, selecionadora do Prêmio Victor Civita.
ESFORÇO CONCENTRADO
A proposta de criar seis salas de aceleração foi apresentada para toda a comunidade escolar, que a debateu amplamente. A chave do sucesso, nesse caso, foi o envolvimento de todos. Mais especificamente dos professores, que tiveram de montar um currículo adequado às novas exigências.

O primeiro desafio foi envolver os docentes e convencer os mais resistentes de que concentrar o ensino dos principais conteúdos num espaço de tempo mais curto (dois anos em um ou dois semestres) era o único caminho possível. Para isso, havia a necessidade de rever o planejamento das aulas, selecionar os temas a trabalhar e mudar a maneira de ensinar, pois garantir a aprendizagem sempre foi uma condição inegociável. "Muitos professores estavam acostumados a dar as mesmas aulas e usar as mesmas estratégias didáticas de muitos anos", conta Amarildo. O argumento final para convencê-los foi de que alguma coisa precisaria mudar, pois o que tinha sido feito até então, comprovadamente, não estava dando resultados.

Os esforços se concentraram no estabelecimento de uma rotina de trabalho com os docentes e coordenadores pedagógicos. Usando como base o currículo do Distrito Federal, eles selecionaram os conteúdos básicos que permitissem aos alunos avançar a ponto de poder retornar às turmas regulares e, o mais importante, revira a maneira de ensinar. Como lembra o professor de Matemática Ribamar Souza, "passamos a ouvir mais os alunos para conhecê-los melhor e assim escolher formas mais eficientes de fazer com que aprendessem. Esse tema era constante em nossas reuniões pedagógicas".

A escola passou por uma reorganização para reservar as salas necessárias. Os coordenadores fizeram o escalonamento de horários para a atribuição de aulas e planejaram a formação dos professores. Paralelamente, Amarildo preocupou-se em envolver os pais em reuniões com a equipe gestora. Nos encontros, a tônica era a oportunidade de mudança. "Em nenhum momento, falamos em fracasso", diz Francilene Nunes, uma das quatro coordenadoras pedagógicas.
No fim de 2008, 90% dos participantes do A Hora É Essa - Avanço Excepcional tinham recuperado pelo menos um ano. A distorção idade-série foi reduzida em 25%. Marcelo Siqueira, o jovem citado na abertura desta reportagem, agora está na 8ª série. "Hoje sou aluno destaque na turma porque sempre tiro boas notas e tenho gosto em estudar." Na avaliação feita pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, da qual todos os estudantes da escola participaram, a CEF 427 surpreendeu e obteve a melhor nota do Distrito Federal, ficando acima da média da rede. "Hoje, nossos estudantes podem pensar em um futuro bem diferente do que a maioria imaginava ter há dois anos", comemora Daniela da Silva, professora de Língua Portuguesa.
NOS SITES, VOCÊ ENCONTRA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE A EVASÃO ESCOLAR
http://www.infoescola.com/educacao/evasao-escolar/

 http://www.abmp.org.br/textos/159.htm



Projeto institucional: correção de fluxo na escola
Como corrigir a defasagem entre idades e série dos alunos e garantir a aprendizagem.
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Ficha
Objetivos
- Corrigir a defasagem entre idade e série dos alunos.
- Garantir a aprendizagem dos conteúdos básicos.

Anos
6º ao 9º.

Conteúdos da Gestão Escolar
- Aprendizagem
Elaboração do currículo, flexibilização da avaliação e acompanhamento do desempenho dos alunos.
- Relações pessoais
Reorganização da rotina e do horário de trabalho de professores, coordenadores pedagógicos e orientadores educacionais.
- Comunidade
Reunião com os pais dos alunos das turmas de aceleração para envolvê-los no projeto e na avaliação dos resultados.
- Espaço
Organização das classes de aceleração.

Tempo
Um ano.

Material necessário
O material didático é o mesmo das turmas regulares. O uso de outros recursos depende do planejamento.

Desenvolvimento
1ª etapa
Diagnóstico e divisão das turmas

Organize um levantamento para saber o número de alunos com histórico de repetência. Para isso, use os registros e dados da escola. Se houver uma quantidade significativa de estudantes nessas condições, forme classes de aceleração agrupando os alunos com idades próximas numa mesma turma. Eles devem fazer uma prova específica, preparada pela equipe pedagógica, para conhecer as dificuldades e os conteúdos que terão de ser mais trabalhados.

2ª etapa
Mobilização das famílias

Chame os pais para conhecer o programa e mostre os objetivos. Cabe a eles decidir sobre a participação do filho no projeto. Durante o ano, mantenha contato com os familiares para que eles relatem o que observam em casa em relação à aprendizagem, ao comportamento e às eventuais dificuldades.

3ª etapa
Preparação da equipe

O projeto deve ser elaborado pelo diretor em parceria com a coordenação pedagógica e os professores envolvidos, prevendo as metas a serem atingidas, o cronograma e as responsabilidades de cada um. Apresente a ideia inicial para toda a equipe docente, mostrando a importância da iniciativa para reintegrar os alunos com histórico de fracasso escolar (e abra espaço para receber sugestões e fazer ajustes). Coordenadores pedagógicos e professores são peças-chave, pois cabe a eles sugerir as adaptações curriculares e traçar as estratégias de ensino. A resistência inicial pode ser grande, já que a proposta envolve mudanças na grade, nas atribuições das aulas e também um esforço para adaptar estratégias pedagógicas. Deixe claro que a equipe gestora apoiará o processo e ofereça condições de trabalho.

4ª etapa
Adaptação do currículo

Selecionar o que é fundamental para que os alunos aprendam é a base do projeto. Use como referência o currículo da rede e traga para consulta propostas elaboradas para a Educação de Jovens e Adultos, já que elas apresentam uma condensação de conteúdos. Acompanhe o trabalho dos professores e coordenadores pedagógicos, garantindo a presença no programa dos conteúdos básicos de cada disciplina para que os estudantes possam, depois, acompanhar as classes regulares após a correção de fluxo. Os encontros de planejamento e formação continuada são os mais adequados para moldar o currículo. Por isso, garanta a regularidade desses momentos e esteja presente para ajudar a pensar em estratégias.

5ª etapa
Acompanhamento

Para acompanhar a frequência e o desempenho dos estudantes das classes de aceleração, peça que os professores elaborem relatórios individuais, com informações sobre o progresso de cada aluno. Esses documentos são úteis nas reuniões de trabalho coletivo e servem de base para promover a readequação da prática em sala de aula. Os coordenadores pedagógicos, além de auxiliar na adaptação do currículo, trazer referências e orientar a equipe docente, são os responsáveis por observar o andamento das atividades em sala de aula. O diretor coordena todo o processo e divide com o orientador educacional o contato com as famílias e as mudanças de estratégias para incluir e ajudar o estudante.

6ª etapa
Flexibilização da avaliação

A avaliação dos alunos das classes de aceleração deve ser a mais ampla possível. A sugestão é sustentá-la em três pontos: numa prova específica elaborada com base nos conteúdos trabalhados em sala de aula; em outra prova de caráter mais geral, que deve ser feita também pelos que estudam nas classes regulares, abordando os conteúdos básicos (ela serve para apontar se os alunos acelerados podem ser reintegrados às turmas originais); e, finalmente, no acompanhamento de atitudes importantes para o desenvolvimento do perfil de estudante. O projeto A Hora É Essa, em Samambaia, criou a Nota Positiva, responsável por 20% do conceito geral do aluno, em que são avaliados o cuidado com os materiais, a participação nas aulas, a presença e outros comportamentos.

Avaliação
A medida do sucesso do projeto de aceleração é a aprendizagem dos alunos. A diminuição da evasão e a frequência são índices importantes e devem ser monitorados pelos gestores. A participação em avaliações externas, como a Prova Brasil, também serve para indicar se houve avanço.



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